sábado, 18 de outubro de 2008

"Galeria de Conhecimentos"

Galera... informo-lhes que acabei de adicionar logo aí ao lado uma barra de vídeos, na qual estarei postando e indicando vídeos de qualidade para refletirmos sobre diversos temas. Para começar, postei o vídeo da visita técnica que fizemos à UESC-BA e uma vídeo aula sobre Equilíbrio Químico... Espero que gostem!!!

Fiquem ligados que em breve estarei postando outros vídeos sobre assuntos diversos...

Divirtam-se...

domingo, 5 de outubro de 2008

Texto publicado na Revista Idiossincrasia do CEFET-BA


Uma leitura das paraolimpíadas


Lennon Pereira[1]


“A mídia reflete uma imagem tão imprecisa e

incompleta – das pessoas com deficiência -,

que torna impossível reconhecer-se nela”

(Ana Maria Morales Crespo)


Em 1960, realizou-se a primeira paraolimpíada em Roma, que visava “integrar” os atletas portadores de necessidades especiais com os ditos “normais”, que já mostravam suas potencialidades nas tradicionais Olimpíadas, criadas desde 776 a.C. Apesar dessa iniciativa da sociedade, é possível notar que não só hoje, mas desde quando foram criados, os jogos paraolímpicos não tem tanta ênfase da mídia e de muitas pessoas, se equiparada aos jogos reservados para os esportistas que não apresentam deficiência, evidenciando o grande preconceito que ainda existe por trás de tudo isso.


Durante todo decorrer das Olimpíadas realizadas na China, os meios de comunicação não noticiavam mais nada, a não ser os jogos. O fervo, as angustias, tudo foi mostrado em detalhes aos telespectadores que “querendo ou não”, acompanhavam o decorrer destes com plena qualidade e atualidade.


Entretanto, o que se pode observar durante o decorrer dos jogos paraolímpicos, é que a mídia não deu tanta atenção a estes quanto aos jogos estrelados por atletas não deficientes.


Essa desatenção pode ser explicada pelos preceitos capitalistas os quais estamos subordinados, pois o grande interesse do veículo de comunicação é lucro, a obtenção de audiência para os comerciais, o que de acordo a própria mídia, não é atingida com a vinculação das paraolimpíadas. Reforçando essa, podemos citar a opinião do professor Aristides Alonso[2], que diz que a causa dessa desvalorização pela mídia é o interesse corporativo que supera o ético, na qual não importa mais o que é correto, mais sim o que dá lucros.


Os veículos de comunicação constroem uma realidade para ser consumida pelo público. Se este não “gosta” das paraolimpíadas ou dos parapans, logo a mídia não exibe por que não dará vantagem financeira a ela.


Levando em conta a justificativa dada pelos meios de comunicação de que os jogos paraolímpicos não proporcionam audiência, podemos destacar também, o preconceito que ainda existe na sociedade com relação a portadores de necessidades especiais. As pessoas enchem a boca dizendo que é normal as paraolimpíadas e quando estas são exibidas, mesmo que por curtos períodos de tempos, os telespectadores mudam de canal sem nenhuma dor na consciência.


Hoje se tornou um comodismo tratar os deficientes físicos como desolados. No Para - Pan ocorrido no Brasil, por exemplo, muitas pessoas acharam bonitas as competições e a coragem dos atletas, porém, havia sempre um ar de inferioridade nas falas destas, na qual designavam os parapans como vencedores coitadinhos, que estavam a conquistar títulos por uma oportunidade lhes dada por caridade, comportamento que pôde ser evidenciado no decorrer das paraolimpíadas da China. Exemplo disso foi o professor de ginástica de Rosita Edler de Carvalho[3], que afirmou: “agora viriam os jogos daqueles "coitadinhos" e que seria uma "caridade" prestigiá-los”.


O nome Paraolimpíadas constitui-se da palavra Olimpíadas juntamente com o prefixo “para”, que designa realização que deve ocorrer separada. Mas por que essa divisão, já que o objetivo é integração? Não deveria ser tudo unido em uma só olimpíada, em um mesmo período na qual todos tivessem contato e conivência social?


As paraolimpíadas são formas de segregação, na qual se prepara uma festa, com intuito de demonstrar a união entre “diferentes”, que não há, e especular para sociedade que está sendo feita alguma coisa visando à integração social. Não faz sentido ter um evento isolado, se o objetivo é união!


Essa questão é tão intragável, que uma japonesa naturalizada brasileira, escondeu o fato de ser cega até chegar ao tatame, em repulsa, como afirmado por ela, de “ser empurrada para o Parapan”.


É esse tipo de comportamento que exprime o quanto os jogos para-“etc.” simboliza na realidade. Esses fazem com que os atletas se sintam inferiores, afastados e não aproximados da sociedade. Esses tipos de eventos não deveriam ser explorados com intuito de lucro, mais sim de tornar público o esforço e dedicação dos atletas.


Os atletas portadores de deficiência não deveriam ser separados por hierarquias, mas sim integrados naturalmente. Não é necessário criar eventos exclusivos para estes, pois como visto no ato da japonesa, o que importa é poder mostrar do que eles são capazes. Como diz o atleta Clodoaldo Silva[4], “(somos) atletas que, acima de tudo, têm amor pelo esporte, e a deficiência é apenas uma característica, e não uma doença na qual temos que ser postos em quarentena”.



[1] Aluno do segundo ano do curso técnico em informática integrado ao ensino médio em vigor no CEFET-BA unidade de Eunápolis.

E-mail: lennon_rp@hotmail.com

[2] Professor de teoria da comunicação;

[3] Professora universitária e escritora. É autora do livro “Escola inclusiva” na qual discute a inclusão social nas escolas;

[4] Atleta brasileiro ganhador de seis medalhas na paraolimpíada de Atenas em 2004.