sexta-feira, 17 de abril de 2009

Mudando o mundo. Regredindo ou evoluindo?


Lennon Ramos Pereira


Desespero, correria, estresse, esses são os elementos que compõem o cotidiano de milhares de estudantes do ensino médio no Brasil. A maioria dos vestibulandos hoje buscam concorrer a vagas em diversas universidades, e isso acarreta, muitas vezes, em pilas de livros diferentes a serem lidos, falta de condições financeiras para realizar as provas, sem contar com a necessidade que a maioria tem de revisar os assuntos no decorrer do 3º ano. A proposta de unificação dos vestibulares vem de encontro com essas questões, pois possibilita aos vestibulandos que não podem se deslocar entre estados, a realização da prova na cidade em que reside, e também diminui a carga de livros a serem lidos. Porém, esse modelo não leva em consideração as diferenças regionais, os desníveis da educação básica no país, entre outras.


Analisando o processo seletivo que as atuais universidades federais adotam, pode-se perceber que há uma diferenciação muito grande no que diz respeito ao modo como é exigido do aluno o conteúdo desenvolvido durante o ensino médio. A UFMG, por exemplo, valoriza a linha de raciocínio lógico e a visão crítica da sociedade, já outras universidades preferem verificar somente o domínio das disciplinas de forma tradicional.


A proposta de unificação dos vestibulares, como pode ser visto na matéria da “Gazeta do Povo Online”, é embasada na transformação do ENEM em um exame nacional de caráter classificatório para o ingresso nas universidades públicas e particulares de todo país. De acordo com o ministro da educação, Fernando Haddad, um grande ponto positivo dessa unificação seria a de que o vestibulando não teria que se dividir entre diversos vestibulares.


Mas a grande discussão entre adotar ou não a unificação gira em torno das diferenças que cada região tem e suas peculiaridades. Nos vestibulares da UESC-BA, por exemplo, é exigido do concorrente os conhecimentos gerais e específicos do Extremo Sul da Bahia, já na UFRJ é cobrado assuntos do contexto carioca, e daí por diante, de modo que cada região se diferencia e age de acordo com seu contexto.


Mas como empregar um processo seletivo nacional levando em consideração as dificuldades e as diferenças no ensino básico?


Essa questão é também um grande paradigma para a formulação deste novo método de avaliação. O reitor da Universidade do Paraná, Zaki Akel, se posicionou contra a unificação justificando-se justamente nas diferenças de ensino no país.


Reformular o modo de ingresso no ensino superior sem modificações no ensino básico é realmente uma inteligente saída? Ou este problema será sanado com a criação de mais cotas “incluístes”?


Não se tem como planejar uma prova nacional relevando fatos que estão evidentes em nossa sociedade. É claro e que há a necessidade da reformulação dos “padrões” de vestibulares existentes, mas isso deve ser feito com muita consciência e realismo. Não é vergonha dizer que os alunos de São Paulo tem muito mais chances de ter uma boa colocação no vestibular da Fuvest em relação aos baianos (pois também é evidente a desigualdade escolar entre estes), mas sim querer fechar os olhos e condizer com o famoso clichê de que “ somos todos iguais”, sendo que somos sim diferentes, somos sim carentes.


Portanto, o que devemos pensar na hora de optar entre a unificação ou não dos vestibulares brasileiros é nas diferenças que hoje temos na nossa sociedade e se essa proposta atende as “reais” necessidades do momento. Não se pode querer revolucionar o mundo de uma hora pra outra sem preparação, mas também não podemos nos fechar a novas possibilidades que vão surgindo. Cabe a cada um a responsabilidade de tentar mudar o que não está contentando, de forma que se chegue a um resultado satisfatório e consistente.

Um comentário:

Unknown disse...

O texto deixa claro que não é possível a unificação nos processos seletivos nas universidades, e que todos nós devemos ter essa consciencia!