domingo, 21 de setembro de 2008

Análise do livro “O país do carnaval” de Jorge Amado

lennon Pereira


Este livro inicia a considerada primeira fase de Jorge Amado como escritor. Esta fase caracteriza-se por denúncias políticas e problemas sociais, o que pode ser evidenciado nesta obra. Ha sempre uma grande crítica em volta dos costumes dos personagens que leva o leitor a reflexão de assuntos extremamente importantes, como a situação política do país e as relações sociais.

A primeira coisa que chama a atenção neste livro é o título. Por que logo: “O país do carnaval”? Este nos remete a um pré-jugamento do que o livro abordará em seu enredo, que na minha primeira visão seria a questão do carnaval como festa, folia e curtição dos brasileiros, mas veremos mais a frente se é isso mesmo que o livro relata.

Este conta à história de Paulo Rigger, um baiano que mora na Europa e retorna ao Brasil em um dia de carnaval. No início é festa, mas esse personagem é uma pessoa incompleta, que vive em busca de uma felicidade que para ele é quase impossível de se alcançar.

Ao envolver-se com uma garota, Paulo Rigger demonstra o preconceito que havia na época, em relação à mulher. Essa garota revela-o que não é mais pura e ele a renega severamente, não a aceita mesmo gostando dela.

Essa parte do livro é justamente uma crítica do autor para com a situação da mulher da época em que se passa a história. A mulher vivia repreendida, pois não podia dizer que não era mais “moça” devido o descaso que sofreria perante a sociedade da época, que nada tolerava em relação a estes assuntos.

Como havia pensado no início, através da reflexão sobre o título do livro, esta obra relata sim o carnaval como festa, mas vai muito além disso. O livro critica justamente o ritmo brasileiro de viver, de aceitar pacificamente as coisas erradas de governantes em troca de meros “benefícios” fúteis.

Na história, o povo é caracterizado como festeiro. Como pessoas que só elegem um governante que promove mais festas, que disponibiliza a diversão, entre outras. E é dessa forma que o autor torna explícito sua opinião acerca do Brasil.

O personagem Pedro Ticiano, caracteriza o brasileiro desanimado, desiludido com a vida e não acredita mais na felicidade. Este é sempre “do contra” e torna-se uma pessoa chata na história. A função deste personagem na obra é demonstrar que apesar dos sacrifícios, das decepções, nunca ninguém deve desistir. Este por ser uma pessoa desiludida, morre sem conseguir tornasse uma pessoa feliz, fazendo com que os seus amigos, dentre eles, Paulo Rigger, reavaliem seus conceitos e tomem consciência de que a felicidade é a gente que constrói, e não é só um pacote de dinheiro e festas.

O romance fala de como os intelectuais na época em que acontecia a Revolução de 1930 pensavam. Eram um paradoxo total, em alguns momentos incentivavam o seu acontecimento, e em outros se colocavam contra esta, o que no contexto demonstra à inconsistência da opinião do povo, o que caracteriza uma grande crítica da obra, a questão dos cidadãos não terem opiniões formadas, memória volátil, qualquer coisa faz uma reviravolta nas decisões destas pessoas.

A obra se finaliza quando Paulo Rigger retorna à Europa desapontado com a morte de Ticiano. Ele percebe que o que Ticiano pregava era extremamente errado, que é sim possível ser uma pessoa feliz. Ele Embarca no Rio de Janeiro, na mesma época festeira em que chega, a do carnaval. Mas o que torna interessante o desfecho do livro é o olhar de Paulo sobre os carnavalescos. Representa o sentimento de desprezo e revolta, pois ele considera o Brasil atrasado, que as pessoas que ali estavam eram reles robôs, que só viviam em função da diversão, que não pensavam em nada, qualquer coisa mudavam suas opiniões, que era literalmente um “País do Carnaval”.

O tempo que se passa a narrativa é marcado cronologicamente. Apresenta verossimilhança em todos os momentos da obra, caracterizando a sua atualidade, na qual mesmo que a obra esteja sendo acessada hoje, após 77 anos de sua primeira publicação pelo autor, torna-se uma coisa atual, que retrata o nosso dia-a-dia.

Acredito que seja uma excelente obra para pessoas que desejam boas leituras. O livro desperta um senso crítico fantástico ao leitor, no que diz respeito a posição diante dos embates políticos e a relação que se tem com a tão almejada felicidade que parece impossível de se alcançar, mas que com certeza não é inatingível assim.

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